Fundamentando-nos nas pesquisas etnográficas que realizamos no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, e na cidade de Sonora, no México, analisamos a morte e o desaparecimento em massa no quadro de regimes (formalmente) democráticos. Uma comparação por contraste permite-nos evidenciar dinâmicas de semelhanças e contrastes entre estes dois lugares. Estabelecemos um diálogo com a perspectiva estrutural da necropolítica e trabalhos que analisam experiências de vítimas em diferentes contextos nacionais. Propomos relacionar a noção de ambiente necropolítico com uma análise de práticas de valorização da vida humana. Para tanto, partimos dos pontos de vista de experiências de pessoas cujas vidas, bem como aquelas de familiares e próximos, são socialmente desvalorizadas (valuation studies). Desta análise emerge a noção de corpo materno que nos permite compreender dinâmicas de fricção entre o ambiente necropolítica e a emergência de formas de vidas possíveis, definidas a partir de laços intercorporais entre as famílias e os entes queridos mortos ou desparecidos.