A imagem midiática do véu integral no « caso da burca » na França: estratégias de visibilidade, rostidade e crise icônica
Résumé
No contexto francês da cultura da imagem contemporânea em que a mídia constitui um dispositivo central à expansão da visibilidade, nos propomos a pensar o caráter não-icônico da religião islâmica em relação ao fluxo de imagens midiáticas. Mais precisamente, este artigo trata da construção midiática de uma certa visibilidade pública do islã na França a partir do estudo da cobertura jornalística do “Caso da burca” (2009-2010). Tecido opaco e impenetrável, o véu integral islâmico sacraliza não apenas o corpo da mulher, mas a ideia mesmo de inacessibilidade ao olhar, inaugurando assim algumas interrogações sobre a noções de “rostidade” e de “crise icônica” . Estas noções nos oferecem uma perspectiva de análise ainda pouco explorada para tratar o conceito de “visibilidade” que se situa num entrecruzamento de estudos em religião, mídia e esfera pública.
A partir de uma abordagem semiótica em comunicação – articulando metodologias de análise de discurso e de imagem –, nós estudaremos a cobertura de imprensa regional do “Caso da burca”. Nosso objetivo é demonstrar como o “Caso da burca” suscita reflexões sobre o regime de visibilidade e de publicidade que constitui a cultura da imagem contemporânea francesa. Neste debate público, nós observamos que o véu integral é representado como um signo ao mesmo tempo “obscuro” e “ostensivo”, e sobretudo incompatível com o princípio laico de neutralidade dos lugares públicos. Consideramos assim que esta problematização torna evidente a centralidade da noção de “visibilidade” na cultura da imagem do regime republicano francês. Por estas razões, neste artigo, nós trataremos o espaço midiático como um espaço público que articula estratégias de visibilidade-invisibilidade e constrói, de maneira normativa, um certo espectro de visibilidade islâmica